quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007
Espinho no Dedo
Segue a apresentaçao e introdução do meu Esp. no dedo: ESPINHO NO DEDO EXPLICAÇÃO O jornalista Ruy Castro, numa de suas traduções deWoody Allen, lembrou-se do escritor americanoNathanael West, que “tinha um espinho no dedo quegeralmente não doía. Só quando escrevia”. Pois é, estelivro machucou-me muito. INTRODUÇÃO Em 1971 marquei um “ponto” com uma garota no Campoda Pólvora. Era ditadura Médici e iria receberprograma, estatuto, etc, da APML do B, a Ação PopularMarxista Leninista do Brasil, uma das organizações deoposição ao governo militar. Até então executaratarefas prosaicas (pichações de muros e paredes decasas, panfletagens, guarda de livros “proibidos”,cessão de casa para reuniões), era um simplesmilitante, era “massa”, digamos, sem maiores vínculospartidários. No encontro, talvez intuitivamente ( atéhoje não sei) recusei entrar para a A P. ( umas 2semanas depois a guerrilheira foi presa, junto comvários outros, dedurada por seu namorado). Em 69, no Ginásio Salesiano, tradicional colégio depadres, um colega de sala apresenta-me um exemplar do“Pasquim”. Era, com a censura férrea da época, comooferecer um caminhão de feijão a um esfomeado: amor aprimeira vista (e não houve indigestão). Logoapresso-me a pedir os números anteriores dojornalzinho e a sua leitura se torna uma constante.Aliás, este mesmo colega – esqueço o seu nome nomomento – “introduziu-me” ao ateísmo: de coroinhatransfiguro-me num herege em pleno estabelecimento deensino católico. Quanto ao Pasquim ( junto com “Movimento”,“Opinião”, “Polityka”, “Ex-“, “Em Tempo”,“Argumento”, etc, etc) foi devidamente atirado aolixo, rasgado numa de minhas crises de “expurgo dopassado”. 71. Abandono o segundo ano colegial, no Central,conhecido colégio público de Salvador, pouco antes dasprovas finais, que nem fui realizar. Incarnei-me emBernard Shaw ou Paulo Francis (saudades de P. F., suasidiossincrasias, sua lacuna dolorosa): “para quêestudar, de que irá me servir tudo isso que meensinam?”, por aí. O ano de 72 torna-se uma seqüência de atividadeserráticas, vagabundas: era o meu underground. Publicoum livro (“Flor de Lótus”), mimeo com uns 10 ou 12exemplares (44 páginas) de pura encucação. Vou muito apraia, leio taoismo, zen-budismo, “Caminhos daLiberdade” (Sartre – escritor – ensinou-me : torno-meexistencialista), tento entender Reich e Jung, leiotambém Fritzgerald, o extraordinário Kafka,Dostoievski, Machado, Rosa, Drummond, Virgínia Woolf(Lispector, não sei, nunca li; mas também nunca liProust nem O Pequeno Príncipe; e Ulisses lerei algumdia), Heminghay, Graciliano, etc, etc, mas, não sei,nunca gostei da “filosofia tradicional”, seja lá o queisto for (refiro-me a Kierkegaard, Nietzsche, Kant eoutros). Leio jornais ( um dia, lembro, na cama, oimpacto da manchete “Lamarca Morre”), continuo com oPasquim (que apresentou-me a Millôr, Itararé, PontePreta, W. Allen, L.F. Veríssimo, Irmãos Marx, I. Lessa– humor, disse o Pitigrilli, “é uma criança no escurocantando para esconder o medo”, o k. ; descubro ounderground de Maciel) faço (ou tento) macrobiótica,deixo cabelos crescer , enfim, torno-me um hippie“caseiro”, só teoria, sem drogas (anos depoisexperimentaria maconha e coca, valeu, certo, mas não éa minha). Conheci o “Verbo Encantado”, jornaleco dacontracultura baiana, a sede era, creio, na cidadebaixa, no Contorno. (Um dia bate a minha porta um amigo de rua dizendoque fora solto do exército naquele dia; atendi-ofriamente, arrependo-me até hoje) Em 73 retorno ao estudo. “Se o estupro éinevitável...” Prefiro, por precaução, um daquelescolégios “pagou-passou”, mas, tudo bem, com meusconhecimentos do Salesiano (sempre em primeiro ousegundo lugar, era um c.d.f.) curso numa boa, quasesem estudar (“revia” os assuntos), apenas curtindo oscoleguinhas filhos de papai com merda na cabeça.Colaboro num suplemento literário do antigo J. daBahia, criando um alterego, o Alberto Fontoura, queteimava em polemizar comigo, via páginas do jornal,sob o conhecimento complacente do JOCA, editor docaderno (só como registro colaborei também com “ATarde” e o falecido “Diário de Notícias”). Em 74, no colégio Águia, escrevo um texto para umjornal interno (fundado com alguns colegas) insinuando ( inconsciente, juro) que a libertação de Portugal umdia, seria o prelúdio de nossa própria libertação.Resultado: apreensão e fim do jornal. Em 75 colaborocom um suplemento humorístico da Tribuna da Bahia, “ACOISA”, precocemente desaparecido. Em 78 resenhei para o “Caderno do CEAS” (dosjesuítas baianos, creio) o relançamento do livro deAlexandra Kolontay, a primeira mulher a exercer umcargo de ministro de estado na então URSS, em 1917.Era “A Nova Mulher e a Moral Sexual”. Foi uma resenhainexpressível. Durante o período acadêmico participo de váriasgestões de entidades acadêmicas – conheci o DCE daUFBa ainda secundarista – vejo grupos estudantistravestirem idéias de partidos na época clandestinos (nada contra, era o possível naqueles tempos bicudos).Na universidade tento sistematizar meus conhecimentospolíticos ideológicos: materialismo histórico, Lênin,Engels, Trotsky, Mao, Paulo Freire, Che, Boal, nossoquerido Brecht – quem levou “por engano” meu “BertoltBrecht: poemas 1913-1956”? (já o Marx nunca conseguiler, muito menos o tão falado e insosso “Capital”). Vio racha do PC do B (pós Araguaia) dentro do MovimentoEstudantil. Fiquei com o grupo que formaria o PT (hojepergunto-me: o PT já não estaria por demaisinstituído? Já não seria o momento detransformarmo-nos em anti-PT?) Em 1984 tomo uma atitude desesperada, louca, insana( até hoje incompreensível para mim ): caso,formalizando uma união de alguns meses. Depois deinacreditáveis 6 longos anos – ou mais? – de“convivência” separo-me, judicialmente, afinal. Hoje, 2000, após mais de um ano enclausurado emcasa, vítima de uma triste fratura decorrente de umatropelo, resolvo reunir um pouco disso tudo sob aforma de textos, a maioria inéditos. Mesclei humor,poesia, “filosofia”, literatura, um pouco de cada enada de nada. Alguém disse “só dói quando eu rio”. Émais ou menos isso: só dói quando eu vivo. Inclusive.São universos intercambiáveis, imbricados, é algodialético, há, lógico, feed backs automáticos, como emtudo, aliás. (A propósito, dividi este livro em 3 grandes blocos:parte I, Inéditos (período 98/99), Passando a Limpo,uma retrospectiva 73-79, do “Jornal da Bahia”,“Pasquim”, “A Tarde” e “A Coisa” e um último bloco comalguns tópicos do meu livro “Flor de Lótus”, aindainédito, para todos os efeitos)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário